“Na noite em que ia ser entregue, Jesus pegou o pão, deu graças e o deu aos seus discípulos dizendo: ‘Tomai todos e comei. Isto é o meu Corpo que será entregue por vós’. Do mesmo modo, ao fim da ceia, Jesus tomou o cálice em suas mãos, deu graças novamente e o entregou a seus discípulos dizendo: ‘Tomai todos e bebei. Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim.’”

E é assim, citando as palavras de Jesus durante a ceia realizada na noite anterior a Sua morte, que o sacerdote que celebra a Santa Missa recorda o momento em que a Sagrada Eucaristia foi instituída. Nesse momento o sacrifício de Jesus, que ocorreu de forma cruel e sangrenta, é renovado diante de nossos olhos, porém de forma incruenta, sem sangue, sem tortura, e o maior milagre que os olhos humanos podem presenciar acontece: o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue, na alma e na divindade de Jesus Cristo. Nosso Senhor se faz presente diante de nós, tornando-se digno de toda adoração e de toda a glória.

Porém há pessoas que não acreditam que esse milagre possa acontecer. Muitos nos chamam de idólatras por estarmos prestando adoração a um pedaço de pão e a um pouco de vinho, que, segundo eles, nada mais são do que o que foi dito: pão e vinho. E é isso que queremos abordar nesse texto. Será que nós católicos estamos delirando ao adorar o pão e o vinho, achando que neles se faz presente o próprio Jesus, ou a nossa atitude é correta e agradável aos olhos de Deus? Essa é a pergunta que pretendemos responder, tudo sempre tendo por base as três fontes que formam a base de nossa Doutrina: a Bíblia, a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja Católica.

A EUCARISTIA

Em primeiro lugar se faz necessário definir qual o significado de Eucaristia. Compreender o seu conceito é de fundamental importância para o entendimento do restante do texto, então vamos lá:

Eucaristia: do Latim EUCHARISTIA, do Grego EUKHARISTHIA, “gratidão, agradecimento”, de EUKHARISTOS, “agradecido”, formado por EU-, “bem”, mais KHARIZESTHAI, “mostrar favor ou agrado por”, de KHARIS, “favor, graça”1.

Trocando em miúdos, eucaristia significa “Ação de graças”.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, partindo agora para o sentido teológico da palavra, a Eucaristia é:

AÇÃO DE GRAÇAS:

“§1359 A Eucaristia, sacramento de nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico, toda a criação amada por Deus é apresentada ao Pai por meio da Morte e da Ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, de belo e de justo na criação e na humanidade.”

FONTE E ÁPICE DA VIDA ECLESIAL

“§1324 A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã”. “Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa .””

MEMORIAL

“§1362 A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração chamada anamnese ou memorial.”

PRESENÇA

“§1374 O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo” . “Esta presença chama-se ‘real’ não por exclusão, como se as outras não fossem ‘reais’, mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo.””

SACRIFÍFIO

“§1363 No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos toma-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.”

Resumindo tudo, temos que a Santa Igreja considera a Eucaristia como a memória da vida e da morte e a renovação do sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde Ele se encontra presente em corpo, sangue, alma e divindade, sendo, dessa forma, a presença real de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, e é através deste sacrifício que damos graças e louvores a toda a criação de Deus enquanto aguardamos o retorno do Salvador. Sendo a Eucaristia presença real de Cristo, Ela é digna de toda a adoração, pois ao adorarmos a Ela, estamos adorando ao próprio Cristo!

Tendo posse desse conceito, vamos agora estudar a respeito da veracidade dessas afirmações, rebatendo, dessa forma, as acusações feitas contra nós.

Uma das formas que tentam invalidar o mistério da Eucaristia é através da afirmação de que quando Jesus pronunciou as palavras “Fazei isto em memória de mim” (São Lucas 22:19) ele quis dizer que a ceia é apenas uma forma simbólica de lembrar da paixão do Senhor, ou seja, ela deve ser realizada como um simples memorial e que o pão e o vinho não são verdadeiramente o corpo e o sangue de Cristo. Ora, isso não passa de uma armadilha lógica, um falso argumento. O fato de Jesus ter pedido aos apóstolos que tudo fosse feito em memória d’Ele não faz daquele fato algo fictício, simbólico. É, por acaso, impossível realizar algo real e utilizar dessa realidade para relembrar de um fato ou de alguém? Não é o fato do pão e do vinho se tornarem corpo e sangue de Jesus que faz com que esse momento deixe de ser realizado em memória da vida e da morte do Nosso Senhor, afinal de contas quando vemos o padre, que age in persona Christi 2, consagrando a hóstia e o vinho no altar, a primeira coisa que vem em nossas mentes é a imagem da ceia de Cristo! Porém, ainda assim os acusadores dizem que não há provas bíblicas de que haja realmente a transubstanciação (transformação do pão em corpo e do vinho em sangue). Será mesmo?

Desde o início, muito antes da ceia da páscoa, o senhor já dava sinais de que deveríamos nos alimentar de sua carne e de seu sangue:

“’Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo’. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: ‘Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?’ Então Jesus lhes disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente.’” (São João 6:51-58)

Alguém conseguiu ver algum sentido figurado nessas palavras proferidas por Jesus? Os discípulos de Jesus também não, tanto que muitos disseram “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” (São João 6:60) e muitos deles “se retiraram e já não andavam com ele” (São João 6:66). Considerem que Jesus percebeu que os discípulos se afastaram dele quando ouviram que deveriam comer de Sua carne e beber do Seu sangue, por terem se escandalizado com a dureza de tais palavras. Vocês não acham que Jesus teria se corrigido se não fosse exatamente isso que Ele quisesse dizer? Será que Jesus, que é o próprio Deus, não se expressou direito e causou um mal entendido que tem durado por cerca de 2000 anos?

Se com isso ainda não ficou claro, vejamos o que São Paulo falou a respeito da ceia do Senhor:

“Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” (I Coríntios 11:27-29)

Mais uma vez façamos a pergunta: onde está o sentido figurado deste texto? Se o pão e o vinho apenas representassem simbolicamente o corpo e o sangue de Jesus, por que iríamos comer e beber a nossa própria condenação ao comer o pão e beber o vinho indignamente, nos tornando culpáveis do CORPO E DO SANGUE DO SENHOR? Além disso, por que São Paulo é tão claro em dizer que devemos comer do pão e beber do vinho distinguindo o CORPO DO SENHOR?

Também temos que notar que quando Jesus institui a Eucaristia, Ele é bastante enfático ao dizer “Isto é o meu corpo” (São Lucas 22:19). Ele não diz que o pão simboliza o Seu corpo, mas que ele de fato É! O mesmo vale para o vinho! Não há simbolismo no que foi falado, tanto que os apóstolos continuaram celebrando a ceia do Senhor da mesma forma e pronunciando as mesmas palavras ditas por Jesus (cf. I Coríntios 11:24)

Além de tudo isso, ainda podemos contar com o testemunho dos primeiros cristãos para afirmar que tal crença no corpo e sangue de Jesus já existia entre eles. Vejamos um trecho do texto de São Justino de Roma, a “I Apologia”, escrito por volta do ano 155 d.C.:

“Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou. De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado”.

Vemos aí que desde os primórdios do cristianismo a crença na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia já existia, portanto isso não é fruto da tal “paganização do cristianismo promovida por Constantino” (declarado imperador pelas suas tropas no ano 306 d.C.) como muitos costumam afirmar.

Além da acusação refutada acima, também somos acusados de sacrificar novamente a Jesus durante a celebração da missa e dessa forma contrariamos o ensinamento de São Paulo, que disse:

“Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus. E não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo, como o pontífice que entrava todos os anos no santuário para oferecer sangue alheio. Do contrário, lhe seria necessário padecer muitas vezes desde o princípio do mundo; quando é certo que apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do pecado pelo sacrifício de si mesmo. Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo, assim Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão, e aparecerá uma segunda vez, não porém em razão do pecado, mas para trazer a salvação àqueles que o esperam” (Hebreus 9:24-28)

Realmente esse ensinamento é verdadeiro e o sacrifício de Jesus ocorreu uma única vez, mas Cristo não é sacrificado novamente durante a celebração eucarística! Como foi dito no início deste post, o sacrifício da missa não é um novo sacrifício, mas a renovação do mesmo sacrifício feito na cruz por Jesus Cristo. Nós celebramos o sacrifício de Jesus, que nos lavou de todos os pecados, renovando, assim, as promessas da Nova Aliança que foi instituída pelo sangue precioso do Senhor enquanto esperamos o retorno de Cristo Jesus (cf. I Conríntios 11:26). Também recorrendo aos costumes e práticas dos primeiros cristãos, vamos ver como eles enxergavam a celebração eucarística:

“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro. Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre as nações”

O texto acima foi extraído do Didaqué, escrito entre os anos 60 e 90 da era cristã. Ele é considerado o primeiro Catecismo da Igreja e transmite ensinamentos atribuídos aos doze apóstolos de Cristo. Dessa forma, podemos afirmar que os próprios apóstolos já consideravam a Eucaristia como a celebração do sacrifício de Jesus, o que torna essa prática mais do que aceitável.

Porém Deus não se conteve em demonstrar a presença de Seu filho na Eucaristia apenas por meios testemunhais. Essa presença também foi atestada através dos chamados milagres eucarísticos. Em vários locais do mundo, durante o decorrer do segundo milênio, foram presenciados vários milagres que demonstraram de forma definitiva àqueles que duvidavam a veracidade do mistério da transubstanciação. Leia a respeito desses milagres no link abaixo:

10 MILAGRES EUCARÍSTICOS – PROF. FELIPE AQUINO

A adoração ao Santíssimo Sacramento é tão antiga quanto o próprio cristianismo e é mais do que necessária na vida de todos os cristãos, pois quando O adoramos, estamos adorando ao próprio Deus feito homem que se deu em sacrifício pela redenção de nossos pecados. É no pão e no vinho que Jesus nos faz participar desse sacrifício, e é participando dele que nós reconhecemos que temos que morrer para o mundo e nascer de novo no Espírito Santo.

No vídeo abaixo, padre Paulo Ricardo fala a respeito da importância da adoração a Jesus Eucarístico. A palestra completa está dividida em cinco partes:

PARTE 01

PARTE 02

PARTE 03

PARTE 04

PARTE 05


Da mesma forma que os israelitas sacrificaram um cordeiro, macho, sem máculas, se alimentaram de sua carne e o sangue do animal os salvou da morte, conforme foi ordenado por Deus (cf. Êxodo 12:1-14), assim também Deus mandou o seu cordeiro, o Filho do Homem, sem máculas, livre de todo o pecado, para que Ele fosse sacrificado, sua carne fosse dada por alimento e o seu sangue nos livrasse da morte, abrindo-nos o caminho para a vida eterna. Somente através do sacrifício de valor infinito de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é que nós poderíamos apagar a ofensa infinita que fizemos contra Deus no momento em que o pecado entrou no mundo por nossa tão grande culpa. E assim foi feito; e a promessa de Deus foi cumprida.

Fiquem com Deus e que Maria os conduza pelo caminho que leva a Jesus!

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1- Origem Da Palavra, disponível em: http://origemdapalavra.com.br/pergunta/eucaristia/

2- In Persona Christi ou na pessoa de Cristo: a Doutrina Católica ensina que o padre, durante a santa missa, age na pessoa do próprio Cristo enquanto Cabeça da Igreja, ou seja, o próprio Jesus assume o lugar do padre na celebração (Catecismo da Igreja Católica, §1548).