A palavra de Deus é a fonte que alimenta a alma dos cristãos e é nosso dever conhecê-la e praticá-la a fim de ter uma vida digna e agradável aos olhos do Senhor. Geralmente quando falamos sobre esse assunto, a primeira coisa que vem a cabeça de qualquer pessoa é a Bíblia, afinal nos quatro cantos do mundo se defende que é através dela que Deus tem transmitido Seus ensinamentos a todos os povos, porém cabe aqui uma pergunta: será realmente que a totalidade dos ensinamentos de Deus encontra-se nas Sagradas Escrituras? E a resposta para essa pergunta pode ser encontrada na própria Bíblia. Vejamos o que ela diz:
“Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro” (São João 20:30)
“Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (São João 21:25)
“Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita” (II João 1:12)
“Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ir ver-te em breve e então falaremos de viva voz” (III João 1:14-15)
É fácil notar que houve ensinamentos que não foram escritos na Bíblia, porém isso não a invalida. Tudo o que está nela representa a Verdade revelada por Deus aos homens e é digno de obediência, porém isso não significa que ela contenha toda esta Verdade. A Bíblia contempla tudo aquilo que é necessário “para que creiais que Jesus é o Cristo” (São João 20:31). Ora, para que possamos crer que algo é verdadeiro não é necessário conhecer a totalidade dos fatos, mas uma simples prova se mostra suficiente para passarmos a crer nesse algo e despertar, com isso, a curiosidade de conhecer toda a sua complexidade, concordam? E é através da Sagrada Tradição que a totalidade dos ensinamentos que Deus nos deixou é revelada. Por não ser a Bíblia a única fonte da Verdade revelada por Deus, não devemos achar que por conta dela não narrar determinado fato, este se torna mentiroso ou sem credibilidade. A Tradição Apostólica, por meio de inúmeros textos, confirmam todo e qualquer dogma pregado pelo catolicismo como sendo uma crença que remonta os primeiros séculos.
TIPOS DE TRADIÇÃO
Primeiramente é de vital importância diferenciar duas coisas: a Sagrada Tradição (com “T”) e as tradições religiosas humanas (com “t”).
A Sagrada Tradição representa os ensinamentos que foram transmitidos fielmente pelos apóstolos e seus sucessores ao longo dos séculos. Como exemplos temos a assunção e a virgindade eterna de Maria (que não são citadas explicitamente na Bíblia, pois o objetivo deste livro sempre foi falar de Jesus e da salvação do mundo preparada por Deus, mas acredita-se nisso desde os tempos antigos e na Bíblia vemos alguns sinais implícitos que comprovam a veracidade de tais fatos, mas que serão tratados em outro texto), e o próprio cânon bíblico, pois você não vê em nenhum escrito sagrado uma indicação de quais ou quantos livros devem ser considerados inspirados.
As tradições humanas são tradições criadas pelos homens, mas que não estão em contradição com o que é ensinado pela Santa Igreja, como, por exemplo, as festas religiosas, os dias dedicados aos santos, etc.
Neste texto iremos focar a Sagrada Tradição.
ANTES DE ESCREVER, TIVERAM QUE FALAR
Nenhum dos livros das Sagradas Escrituras foi escrito ao mesmo tempo em que os fatos ocorreram. Durante anos essas histórias foram transmitidas oralmente de geração em geração, criando uma enorme e rica Tradição, até que alguém tivesse a ideia de passa-las para o papel para que esses fatos não se perdessem (leia mais no texto “Fonte da Verdade: a Bíblia Católica”). Isso ocorreu tanto para os livros do Antigo Testamento quanto para os do Novo Testamento. Exemplos claros disso são os quatro Evangelhos. O Evangelho segundo São Mateus, o primeiro da Bíblia, foi escrito entre os anos 40 e 50 d.C., enquanto que os outros três, São Marcos, São Lucas e São João, foram elaborados entre 55 e 70 d.C., ou seja, todos eles foram escritos muito tempo depois de Cristo ter morrido, ressuscitado e subido aos céus! Além do mais, dos quatro evangelistas somente Mateus e João era discípulos de Jesus e vivenciaram os acontecimentos sobre os quais escreveram. Os outros dois apenas escreveram sobre o que ouviram de outras pessoas. O próprio São Lucas ouviu toda a narrativa da vida, morte e ressurreição de Cristo da boca de São Pedro para que pudesse a escrever. Percebam que nenhum desses quatro homens estava sempre ao lado de Jesus com um caderninho tomando nota das coisas que Ele falava.
A TRADIÇÃO É FUNDAMENTADA NA BÍBLIA
Além de tudo isso, a própria Bíblia confirma que devemos seguir a Tradição oral. Além das Sagradas Escrituras confirmarem que nem tudo foi escrito nelas (passagens do início deste texto), São Paulo em sua segunda carta aos Tessalonicenses, capítulo 2, versículo 15, disse “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa”. Veja que o apóstolo Paulo fala em duas formas de transmissão dos ensinamentos: por palavras ou por cartas! É necessário falar mais?
A BÍBLIA É FILHA DA TRADIÇÃO
Essa afirmação causa espanto em muitas pessoas. Dizer que a Bíblia é filha da Tradição é uma heresia para aqueles que sustentam que tudo o que Deus quis passar para nós está na Bíblia. Então quer dizer que os demais milagres de Jesus e os ensinamentos que Ele passou para os apóstolos durante os quarenta dias que esteve junto a eles após a Sua ressurreição e que São João expressamente não escreveu não são importantes? Ou então as coisas que João, em sua II carta, queria “conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita” não têm importância alguma, apesar de ser algo que vai aperfeiçoar a nossa alegria? Por que Deus iria querer nos privar de tão belos ensinamentos? E por que Ele nos privou disso, mas revelou a outros? O povo antigo é mais valioso que nós? Será que Deus faz distinção entre Seus filhos?
Agora temos uma simples pergunta: quais foram os critérios para se definir o cânon bíblico? Pergunte isso para um defensor da Sola Scriptura (teoria que diz que só a Bíblia é necessária para transmitir os ensinamentos de Deus e de Cristo) e ele vai responder que “o texto não pode estar em desacordo com a Bíblia”. Simplesmente genial, não fosse um pequeno probleminha: quando definiram o cânon, não havia Bíblia! Como podemos dizer que algo serve de base para definir uma lista se esse algo nem sequer existia quando essa lista foi definida? Impossível, não é mesmo? Então como a lista das Sagradas Escrituras foi definida? A resposta é simples: os livros inspirados tinham que estar de acordo com a Sagrada Tradição Apostólica! E foi isso que fizeram. É então que surge a afirmação “A Bíblia é filha da Tradição e não o contrário”! Porém, como foi dito no início desse texto, isso não reduz a importância da Bíblia para nós católicos. A Bíblia e a Tradição devem ser consideradas como verdadeiras, pois ambas se complementam. A Bíblia, inclusive, faz parte da Tradição: a Tradição Escrita!
TRADIÇÕES CATÓLICAS ATUAIS CONFIRMADAS PELOS ANTIGOS
1. MISSA
Muitos dizem que a missa é um ritual inventado pela “herege Igreja Católica” depois que o cristianismo foi “paganizado” por Constantino. Será mesmo? É fato que a celebração eucarística é muitas vezes citada na Bíblia, mas como isso parece não importar para os nossos acusadores, vejamos o que diz São Justino a esse respeito em uma carta que escreveu por volta do ano 155 d.C. (muito antes de Constantino sequer nascer):
“No dia que se chama do sol¹, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: “Amém”. Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos. Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente.”
Quem conseguiu enxergar a missa nesse texto? Acho que todo mundo, não é?
2. CONFISSÃO DOS PECADOS
Jesus, em uma de suas aparições aos apóstolos após sua ressurreição, disse “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (São João 20:22-23). Dessa forma instituiu o sacramento da confissão, dando aos apóstolos a autoridade de perdoar os pecados dos fiéis em nome de Jesus. Porém, mesmo isso sendo tão explícito, nossos acusadores ignoram essa ordem, dizendo que isso não é necessário, pois basta pedir perdão a Deus que já está tudo certo. Será que era isso que os apóstolos pregavam? Vejamos o que diz a Didaqué, texto escrito no século I, ou seja, no período em que os apóstolos ainda estavam vivos, e que reflete os ensinamentos destes:
“Confesse seus pecados na reunião dos fiéis e não comece a orar estando com má consciência”
“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro”
Veja que desde o primeiro século, a confissão dos pecados já era uma prática comum dos cristãos e que era extremamente necessária para participar da Eucaristia.
Esses são apenas dois dos inúmeros exemplos que existem para comprovar a importância da Sagrada Tradição na confirmação dos costumes aceitos ainda hoje por nós católicos.
CONCLUSÃO
A Sagrada Tradição não é contrária a Bíblia e muito menos formada por tradições meramente humanas que foram introduzidas no cristianismo. É graças a ela que nós cristãos podemos conhecer na íntegra tudo aquilo que Deus quis nos passar, seja através dos profetas, seja através de Seu Filho e de seus seguidores. A Bíblia, que representa a Tradição Escrita, sempre andará de mãos dadas com a Sagrada Tradição transmitida oralmente pelos apóstolos e que é refletida em inúmeros escritos que complementam as Sagradas Escrituras e que chegaram até nós graças aos esforços dos primeiros cristãos que se preocuparam em transmitir fielmente toda a riqueza do verdadeiro cristianismo.
Fiquem com Deus e que Maria os guie pelo caminho que leva a Jesus!
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1 – Dia do sol era o termo utilizado pelos romanos na antiguidade para chamar o domingo. São Justino, assim como muitos outros escritores posteriores a ele, se utilizavam desse e de outros termos para tornar o texto de fácil compreensão para leitores de outras culturas.
Leilane Barros
3 de Junho de 2012 às 22:31
Sinto uma felicidade imensa de ver pessoas tão empenhadas em contribuir para o conhecimento, para a santidade e unidade das pessoas da Igreja de nosso Senhor.
É maravilhoso saber que existem jovens que dedicam os dons recebidos pelo Espírito Santo para louvar e agradecer ao nosso Deus, e mostrar o Seu amor aos nossos irmãos.
Sinto-me muito honrada em pertencer à essa gama de escolhidos do Senhor para servi-Lo em Sua Santa Igreja. E esse texto só me fez sentir isso mais ainda, ao me mostrar, de modo mais claro, as maravilhas que Ele nos deixou, por meio dos apóstolos e primeiros seguidores de Jesus.
Deus seja sempre louvado!
Paz e Bem!
Elson
13 de Julho de 2012 às 19:26
Belíssimo discurso, sou evangélico e acredito sim que “Toda a verdade esta na Bíblia” não existe outro livro que contenha, apesar de sim toda história da tragetória da humanidade seja escrita seria uma “idiotice”, quem iria ler um imenso livro? Na Bíblia contém o que é NECESSÁRIO verdadeiramente para nossa vida. Como já mensionei, NÃO EXISTE OUTROS LIVROS QUE PROVEM OUTRAS VERDADES QUE OCORRERAM. Os apóstolos escreveram o ESSENCIAL.
querosabersobredeus
27 de Julho de 2012 às 10:49
Caro irmão, o que você disse não é, de fato, mentira. Os apóstolos realmente colocaram na Bíblia o que é essencial, mas apenas o essencial para que possamos crer que Jesus é o Cristo (cf. São João 20,31), porém isso não significa que toda a realidade referente aos ensinamentos de Deus estão nela. Tudo o que está escrito na Bíblia é verdade, mas nem toda a verdade está na Bíblia. Lembre-se que estamos falando de um livro escrito por homens e não há como um homem, com sua mente limitada, por mais que tenha sido inspirado pelo Espírito Santo, conseguir explicar a infinitude do poder e da glória de Deus.
Fique com Deus e que Maria te guie pelo caminho que leva a Jesus!
gabriela soares
13 de Janeiro de 2014 às 15:14
é exatamente isso. tirou as palavras da minha boca.
Luiz
14 de Agosto de 2014 às 1:17
Também sou evangélico e tenho concordo com o que disse os dois irmãos acima. Porém a teoria fica confusa,quando você diz “…Lembre-se que estamos falando de um livro escrito por homens e não há como um homem, com sua mente limitada, por mais que tenha sido inspirado pelo Espírito Santo, conseguir explicar a infinitude do poder e da glória de Deus… “. Se é assim como podemos confiar que “homens com e mente limitada” possam ter criado dogmas? Como podem ir contra a palavra de Deus que é verdade e criar dogmas 400, 1000 anos depois de Cristo, sendo que os mesmos são tão limitados? Como podemos crer que estes mesmos homens sejam infalíveis?
querosabersobredeus
12 de Setembro de 2014 às 22:51
Luiz, de fato ficou um pouco confuso, mas vamos lá. O que eu quis dizer é que jamais conseguiremos saber tudo a respeito de Deus, pois Ele é infinito e nós, finitos. Nós conhecemos apenas aquilo que Ele nos revelou e com Sua iluminação, e apenas com a Sua iluminação, podemos compreender um pouco mais daquilo que Ele nos fala, mas mesmo que empreendêssemos todos os esforços de todos os homens do mundo, não chegaríamos a conhecer Deus plenamente, pois não há como o finito abarcar o infinito.
No caso dos dogmas, eles não são criados. Eles fazem parte da revelação de Deus, ou seja, esses dogmas foram revelados por Deus. Por esse único motivo nós sabemos a respeito deles e o que a Igreja faz é apenas afirmar sua veracidade através de oração e de estudos dos documentos antigos, para que os fiéis não tenham dúvidas de que tal ensinamento tem origem de Jesus Cristo e que foi transmitido pelos apóstolos e seus sucessores.
Não sei se fui mais claro agora, mas se quiser posso tentar explicar melhor.
Elson
13 de Setembro de 2014 às 10:10
“Nem toda verdade está na Bíblia”, só foi um título dado para gerar discussão. A Bíblia contém a verdade, e “outras verdades”, que supostamente estão em outras escrituras, é só uma forma de acrescentar mais livros na Bíblia Sagrada. “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;” (Apocalipse 22 : 18).
Fiquem com Deus, e se quiser conhecer mais a Deus e o Espírito Santo além do que conheces através da Palavra d’Ele, tenha uma experiência com Ele.
Amém!
querosabersobredeus
13 de Setembro de 2014 às 11:47
Já tive uma experiência profunda com Ele e a renovo todos os dias. Foi por conta disse que decidi seguir o caminho do sacerdócio.
E isso que você disse é sem sentido. Não há a menor possibilidade de se incluir outros livros na Bíblia, o seu Cânon já está fechado. A própria Bíblia afirma que há coisas que não foram escritas nela e que é impossível escrever tudo o que Jesus fez, é só ver a conclusão do Evangelho de João. Essas coisas não escritas formam a Sagrada Tradição e, junto com as Sagradas Escrituras e o Sagrado Magistério, formam o depósito da fé cristã católica. E desse conjunto da Revelação de Deus, de fato, não se pode introduzir nada mais, pois o que foi dito é o que foi transmitido por essas fontes durante os séculos.
O que eu quis com esse título era, sim, chamar atenção, pois é pra isso que um título serve. Ele é o primeiro contato que o leitor tem e precisa ser chamativo para despertar curiosidade nos outros.
Elson
14 de Setembro de 2014 às 12:03
Opaa, sou meio leigo em relação ao conhecimentos Bíblicos. Mas, a respeito do você falou, como então justificar a diferença da quantidade de livros contida no Bíblia Católica para a quantidade de livros contida na Bíblia Protestante???
As pragas (da profecia) descritas em Apocalipse (22 : 18). Está se cumprindo (ou se cumprirá) em quem retirou ou em quem adicionou livros na Bíblia?
querosabersobredeus
16 de Setembro de 2014 às 22:31
A Bíblia Católica tem por base a tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada Septuaginta ou versão dos setenta, também conhecida por cânon maior (conta a história que esta tradução foi feita por 72 israelitas durante cerca de 70 dias, fato que dá nome a essa versão bíblica). Nesta versão estão presentes os livros deuterocanônicos (Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc, além de partes dos livros de Daniel e Ester. Estes livros são assim chamados por não terem sido aceitos pela totalidade dos cristãos na determinação do cânon bíblico), além de outros livros considerados apócrifos hoje em dia, e das 350 citações do Antigo Testamento que estão presentes no Novo Testamento, 300 foram retiradas deste cânon. Essa versão era amplamente utilizada no tempo de Cristo³.
As demais versões bíblicas pós-reforma, por sua vez, foram baseadas no chamado cânon menor, que foi mais tarde confirmado pelo sínodo de Jâmnia, realizado por volta do ano 90 d.C. por um ramo específico do judaísmo³. O fato de uma parte dos judeus terem aceito esse cânon é, para muitos, um argumento suficiente para invalidar a Bíblia Católica, porém há alguns problemas que surgem ao se afirmar tal coisa:
O Sínodo de Jâmnia foi realizado cerda de 50 anos após a morte de Cristo. Nesta época o Cristianismo já existia e, como foi citado, a versão da Septuaginta já era largamente utilizada;
Como foi dito acima, o sínodo foi determinado por apenas um ramo específico do judaísmo, não sendo aceito pela totalidade do povo judeu, sendo, inclusive, contrário a outros cânones judaicos aceitos na época; e
A doutrina pregada no cânon menor é visivelmente contrária aos ensinamentos cristãos, o que mostra que a sua elaboração foi realizada em oposição ao cristianismo. Um exemplo disso é um dos aspectos determinados no sínodo de Jâmnia para validar um livro como inspirado: o texto tem que ter sido escrito somente em hebraico. Essa regra adotada para determinar os livros inspirados ou não automaticamente invalida a maioria dos livros do Novo Testamento, que foram escritos em grego. Veja só a contradição nos argumentos anti-católicos!
Além disso, temos que lembrar que somos cristãos e não judeus! A lista de livros de nossa Bíblia tem que estar em acordo com as doutrinas cristãs e essa relação só pode ser determinada por aqueles a quem Jesus deu plenos poderes de interpretar e ensinar as Escrituras: Pedro, em conjunto com os demais apóstolos, e seus sucessores!
Em relação à determinação do cânon bíblico, vamos primeiro entender o porquê da necessidade de se firmar tal lista. Durante os primeiros 4 séculos do cristianismo era evidente a divergência entre as diversas igrejas sobre quais livros deveriam ser aceitos como inspirados. Diferentes igrejas aceitavam diferentes cânones e diante dessa problemática a Igreja Católica viu a necessidade de determinar quais os livros que deveriam ser aceitos universalmente. Esse cânon foi, então, determinado pelos concílios de Roma (382 d.C.), Hipona (393 d.C.), Cartago III (397 d.C.) e Cartago IV (419 d.C.), realizados muito antes da reforma ou do concílio de Trento. Esses concílios determinaram exatamente o mesmo cânon utilizado hoje em dia por nós católicos, contrariando o que os nossos acusadores costumam afirmar. Porém, mesmo diante disso, muitos teimam em dizer que não há provas de que a lista dos livros da nossa Bíblia está correta, pois esses concílios foram regionais, ou seja, tinham validade para uma determinada região, tornando então necessária a aprovação do Bispo de Roma antes que eles passassem a ser aceitos pelos católicos daquele local. E quem disse que o Papa não os aprovou? Se não houvesse tal aprovação, então por que os papas Inocêncio I, em sua carta Consuleti Tibi (405 d.C.) e São Gelásio, no decreto Gelasiano (495 d.C.) confirmaram o mesmo cânon listado pelos concílios citados? Além do mais, o concílio ecumênico de Florença (1438 – 1445), ecumênico por ter sido realizado pelo papa juntamente com as autoridades eclesiais representantes de todas as igrejas da época, também confirmou a mesma lista de livros inspirados. Com isso é fácil notar que o concílio de Trento apenas repetiu o que já havia sido firmado no decorrer dos 12 séculos anteriores a ele.
nilton
2 de Abril de 2014 às 18:37
De fato, a Tradição Católica é respaldada na Bíblia. Porém, como Jesus disse, “… por causa de suas tradições, anulam a Lei de Deus.” Ele já sabia, que como naquele tempo, se usava a tradição para burlar a Lei e os Profetas, também se usariam a tradição, no futuro para burlar o Evangelho. Sou Católico, da Renovação Carismática Católica! Acredito na Tradição como fonte de fé e igualmente no Magistério dos nossos sacerdotes, mais não acredito que um sacerdote ou a Tradição possa ensinar algo que esteja contra a Bíblia!
Que o espírito santo de Deus ilumine meu caminho na retidão da sua palavra e boas obras.
querosabersobredeus
25 de Julho de 2014 às 14:14
Quando foi que eu falei em ensinar Tradições que contrariam a Sagrada Escritura??? Não sei se você prestou atenção no que eu escrevi, mas lá no texto diz que “A Bíblia, que representa a Tradição Escrita, sempre andará de mãos dadas com a Sagrada Tradição”. De mãos dadas significa que são amigas, companheiras pra toda a vida, entendeu? A Tradição Apostólica, juntamente com a Sagrada Escritura, abarca todo o ensinamento da fé católica, ensinamento este que cabe ao Magistério explicitar. Em momento nenhum um contraria o outro, mas todos trabalham juntos por um mesmo ideal: transmitir a verdade revelada por Deus em sua totalidade.
Pensa bem, meu amigo. Você, que é católico, vai certamente concordar comigo (pelo menos assim espero). Onde está na Bíblia dizendo que Maria foi assunta aos céus ou que Ela foi concebida sem pecados? Não há isso lá, pelo menos não de forma explícita, mas mesmo assim nós cremos que estas são verdades reveladas por Deus. E de onde vieram essas verdades? Da Tradição Apostólica! E mesmo não estando na Bíblia, esses ensinamentos a respeito de Maria não contrariam as Sagradas Escrituras.
Espero que tenha esclarecido as suas dúvidas, meu amigo e irmão católico.
Luiz
14 de Agosto de 2014 às 1:45
Deixa eu entender então: Quer dizer que podemos ensinar algo que não está na Bíblia, desde que este algo não contrarie o que está na Bíblia, é isso?
Se em um concílio, a “igreja” decidir que Jesus andava com um chicote na cintura para chicotear hereges e exploradores, ao vasculhar a bíblia e não achar nada contra a afirmação, então isso poderá se tornar um dogma? Poderemos ter uma imagem nova de Jesus com um chicote? Ainda mais se eu achar na Bíblia UM VERSÍCULO que diga que JESUS fez um chicote, aí sim, isso será uma verdade verdadeira.
É isso?
querosabersobredeus
12 de Setembro de 2014 às 22:01
Não, meu colega, os ensinamentos não podem ser arbitrários. A questão é que sabe-se que antes de serem escritos, os ensinamentos de Cristo foram transmitidos oralmente e, baseado no que diz São João no final de seu Evangelho, nem tudo foi escrito, pois não caberia em livros. Porém, mesmo não sendo escritos em livros bíblicos, esses ensinamentos continuaram sendo transmitidos por aqueles que sucederam os apóstolos. Aquilo que é ensinado pelo que nós chamamos de Sagrada Tradição corresponde justamente a esses ensinamentos que não entraram na Bíblia, mas que são, comprovadamente por meio de documentos deixados por seus sucessores, de origem apostólica.
Se alguém disser que Jesus fez um chicote e foi chicotear hereges e quiser transformar isso em dogma, primeiramente a Igreja terá que estudar os escritos antigos daqueles que chamamos “Pais da Igreja” (muitos protestantes reconhecem esses homens, inclusive) para ver se tal ensinamento já era ensinado desde os primórdios da Igreja. Se sim, é reconhecido como verdadeiro; se não, é descartado como heresia. Assim que funciona.
Adriano
30 de Abril de 2014 às 0:15
Meu amigo, existem tantas mentiras sobre seu ensinamento, que eu nem sei por onde começar!!! Mas vamos começar por aqui: (Deuteronômio 29:29) As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.
querosabersobredeus
25 de Julho de 2014 às 14:15
Pera que eu to um pouquinho lento hoje… Qual a mentira que esse trecho do Deuteronômio desmente? Me responda isso e nós continuaremos a conversa…